TEMA 3

Agentes, Intencionalidades e Contextos Educativos:
uma abordagem dialógica das interacções


Sinopse

É comum a ideia de que a Escola desempenha um papel relevante na vida dos Alunos e dos Professores; a qualidade das relações interpessoais que nela se constroem não pode dissociar-se do desenvolvimento e consolidação das culturas de escola e da construção identitária dos agentes que nela participam.
Esta problemática é vasta. O seu espectro envolve inúmeras dimensões, todas elas com um papel importante na participação escolar dos alunos, na identificação das suas necessidades e interesses e na construção dos seus projectos pessoais.
O acompanhamento tutorial será sem dúvida uma dessas dimensões.



Apresentação das tarefas propostas e respectivos objectivos


análise dos textos propostos e discussão fundamentada dos materiais trabalhados

objectivos

1) Explorar a abordagem dialógica das interacções privilegiando a dialéctica entre os Agentes, Intencionalidades e Contextos;

2) Analisar planos de interacção particulares, em âmbito educativo, como é o caso da acção tutorial.


Trabalhos realizados no âmbito do tema
Vygotsky e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)


Segundo Lev Vygotsky (1896-1934), psicólogo do desenvolvimento de origem russa, a cultura no âmbito da qual somos educados tem uma influência significativa no nosso desenvolvimento cognitivo o qual não pode ser entendido isolado dos aspectos sociais da aprendizagem.

Ao trabalharem em conjunto, para solucionarem problemas, as crianças estão a promover o seu desenvolvimento cognitivo e a adquirir a capacidade de funcionar intelectualmente por elas próprias. Vygotsky defende, mais concretamente, que as capacidades cognitivas das crianças aumentam quando elas são expostas a informação que surge dentro da sua zona de desenvolvimento proximal (ZDP).

A ZDP é o nível no qual uma criança quase consegue compreender ou executar uma tarefa por si própria. Se a informação se encontra fora da ZDP a criança já não terá capacidade para a dominar.

Quando a escola, a família, o seu envolvimento, apoiam a criança fornecendo informação nova à ZDP, estão a promover o seu desenvolvimento cognitivo e a este tipo de apoio chama-se scaffolding. O scaffolding promove a resolução de problemas especificos mas também ajuda no desenvolvimento de todas as capacidades cognitivas.

A teoria de Vygotsky tem em conta a influência do contexto/ambiente socio cultural especifico da sociedade sobre o crescimento intelectual. O modo como as crianças entendem o mundo é visto como uma consequência das interações com os pais, as outras crianças e os outros membros de uma determinada cultura.

Para Vygotsky o principal meio de mediação seria a linguagem. A linguagem é usada inicialmente na interação entre adultos e crianças como um meio de comunicação e colaboração, para passar a ser usada com a finalidade da criança controlar e pensar a sua própria actividade. Pela linguagem os homens compartilham representações, conceitos, tecnicas e transmitem-nos às gerações futuras. O homem apropria-se das significações sociais expressas pela linguagem e confere-lhes um sentido próprio vinculado à sua vida concreta, às suas necessidades, motivos e sentimentos.

A ZDP representa o espaço de interacção entre o aprendiz e o tutor ou par mais apto. Na mente de cada aprendiz podem ser exploradas “janelas de aprendizagem”, durante as quais o professor pode actuar como guia do processo da cognição, até o aluno ser capaz de assumir o controlo metacognitivo. Será de realçar a importância que pode ter a intervenção dos pares mais aptos que, num processo de encorajamento da interacção horizontal, podem funcionar, também eles, como agentes metacognitivos.

A função do professor é a de conduzir o aluno até à aquisição do conhecimento e um dos recursos de que dispõe, para tal, é o trabalho de pares. Vygotsky considera que a mediação da aprendizagem de um aluno por outro mais capaz, a par da ZDP, é um factor relevante em educação. Na aprendizagem mediada pelos pares, o professor deixa de ser responsável pelo controlo da aprendizagem exterior (em contexto social), passando essa responsabilidade para o tutor.

Sendo cada aluno um agente activo no seu processo de aprendizagem, o papel do professor consistirá em guiá-lo e em fornecer-lhe as ferramentas adequadas para promover o seu desenvolvimento cognitivo. De acordo com Henderson (1986, p. 140), um bom professor “must provide a learning environment that integrates the identification of appropriate subskills, the right technology, demonstration of a sort that helps the learned identify the bugs in His or her performance, and explicit knowledge”.



Teoria da Actividade

Sob a designação de Teoria da Actividade [Engeström, Y. (1987), Kaptelinin e Nardi (1997)] agrupa-se um conjunto de conceitos que fundamentam um modelo de práticas, individual e social, enquanto processos de desenvolvimento. O estudo da actividade humana é crucial para a identificação de mudanças e contradições no contexto em que é desenvolvida a actividade. As contradições servem de suporte ao surgimento de novo conhecimento (aprendizagem) relacionado com a actividade em causa.
O conceito de actividade compreende o sistema completo da prática humana, o qual incorpora: Participantes (sujeitos), Relações de mediação (ferramentas, regras e divisão do trabalho) e o Ambiente particular (comunidade) em que decorre a actividade.
Engeström (1987) representou a Teoria da Actividade através de um modelo triangular, onde são evidentes os diferentes componentes desta teoria, como representado na figura seguinte:


Moore & Kearsley ( 1996) apresentaram as  características que consideram necessárias para uma tutoria de intervenção pedagógica:
1. Uma boa estrutura modular - Os conteúdos devem ser bem estruturados e sequenciados de modo a facilitar a aquisição dos objectivos.
2. Objectivos claros - Que facilitem ao aluno, a percepção do que se espera dele e ao professor a tarefa de avaliação.
3. Pequenas unidades de trabalho - A organização dos conteúdos deve contemplar a sua repartição em pequenas unidades, que correspondam, sempre que possível a objectivos de aprendizagem.
4. Participação planeada – Oportunidades de interacção através de actividades e exercícios ao longo dos temas a leccionar.
5. Exemplificação – Os materiais a utilizar recorrerão extensivamente ao comentário e à exemplificação.
6. Repetição – As ideias chave devem ser repetidas periodicamente como reforço para facilitar a memorização.
7. Resumos e sínteses – As ideias importantes devem ser destacadas em sumários breves.
8. Estimulação – O recurso ao som e imagem poderá captar a atenção do aluno.
9. Variedade de informação - A informação apresentada em diferentes suportes (scripto, audio vídeo e informo) apela a vários interesses e estilos de aprendizagem.
10. Auto-avaliação - Promover momentos em que cada formando faça uma avaliação de si mesmo, desenvolvendo capacidade de reflexão sobre as suas prestações e as dos outros.
11. Feed-back - Informação de retorno acerca da eficácia do ensino aprendizagem.
12. Avaliação contínua da eficácia dos materiais - Informação contínua sobre as opiniões dos alunos acerca das características dos materiais e consequentes resultados com vista à sua permanente melhoria.




Fontes (básicas e complementares)


Feldman,Robert S. “Compreender a psicologia” 5ª edição,McGrawHill,2001

Gallego, S.; Riart, J. (coords.) (2006). La tutoria y la orientación en el siglo XXI. Nuevas propuestas. Barcelona: Ocatedro.

Moore, M.G . & Kearsley, G. (1996). Distance Education: A systems view . Belmont, CA: Wadsworth.
http://legislacao.min-edu.pt/np4/np3content/?newsId=1953&fileName=decreto_lei_75_2008.pdf

Ribeiro, E. et al (n.d.). A tutoria em contexto de ensino não superior: proposta de acompanhamento socioeducativo em equipa multidisciplinar. Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde. Documento disponibilizado on line. http://lchc.ucsd.edu/MCA/Paper/Engestrom/expanding/toc.htm

http://lchc.ucsd.edu/MCA/Paper/Engestrom/expanding/ch3.htm)

Reflexão sobre a pertinência científica e pedagógica do tema


Com a massificação da escola, primeiro com a procura da escola pela generalidade das crianças e jovens, seguida da obrigatoriedade de frequência até ao 9º ano, recentemente alargada ao 12º ano, a escola viu-se obrigada a responder aos enormes desafios que lhe são colocados pela heterogeneidade da sua população escolar. É neste quadro que surge a figura do professor tutor (regulada pelo D.L. 115-A/98, de 4 de Maio, regulamentada pelo D.R. nº 10/99, de 21 de Julho e alterada pelo D.L. nº 75/2008, de 22 de Abril) com o objectivo de estabelecer “uma relação de ajuda entre um adulto e um jovem, em que o mais velho possui conhecimentos e competências especializadas, assim como maiorexperiência do mundo e, neste pressuposto, intervém no desenvolvimento socioeducativo do segundo.”

Apesar de concordar com a ideia segundo a qual “o Professor Tutor surge como aquele que é capaz de potenciar o projecto de vida daquele a quem acolhe, contribuindo, numa perspectiva processual de prestação de cuidado e de compromisso, para que este último se assuma como construtor do seu sentido de vida” (Azevedo & Nascimento, citado em Ribeiro, E. J., Oliveira, C., Pereira, C., Felgosa, D. e Nunes, V., s/d, p. 166 ) convém referir que desde 1998, aquando da criação da figura do professor tutor, até à presente data, tem sido muito variável a forma como as escolas interpretam o papel do tutor.O desempenho de funções de tutoria poderá ter como objectivos a:

- capacitação – preparar os alunos para a sua própria auto-orientação e induzi-los, de forma progressiva, a criarem uma atitude para a tomada de decisões fundamentais e responsáveis sobre o presente e o futuro, quer na escola quer na vida social e profissional.

- continuidade - ser disponibilizada aos alunos ao longo dos diferentes níveis de escolaridade;


- educação – é tão importante a instrução dos alunos como a sua educação.


- implicação – dos diferentes actores, nomeadamente, família, comunidade e instituições que intervêm no processo educativo;- individualidade – atender às características específicas de cada aluno.”

De acordo com a mesma legislação a escola deverá fazer o enquadramento do professor tutor nos seus documentos estruturantes, nomeadamente nos projectos educativos e regulamentos internos, com projectos próprios de desenvolvimento, mas em muitas isso não acontece, aparecendo como medida avulso ou pontual, muito mais reactiva do que preventiva ou proactiva.

Um dos grandes desafios de implementação de um programa de tutoria na Escola passa pela “escolha” do grupo de docentes que deverão integrar a equipa de professores tutores (e, se for o caso, de alunos tutores). De facto as qualidades pessoais, a personalidade e a predisposição para o desempenho do papel de tutor são fundamentais para que um docente ”abrace” esta tarefa.

Na minha escola a tutoria está regulamentada no regulamento interno e implementada desde há 10 anos. Optou-se por não delimitar, de uma forma genérica, quem seriam os alunos a usufruir de tutoria, deixando essa incumbência ao conselho de turma. Assim, nalgumas situações, os alunos vão para tutoria porque não têm capacidade para se organizar de uma forma autónoma, e também não têm famílias estruturadas que os possam acompanhar nessa tarefa - neste caso o tutor é essencialmente um professor que vai ajudar o aluno a organizar-se.
Noutros casos o tutor funciona como um ouvinte, quando as necessidades do aluno passam sobretudo por ter alguém que os oiça. São acima de tudo miúdos que vivem muito sozinhos, muitas vezes porque a família, por vicissitudes várias passa muitas horas fora de casa.
Mas temos também o tutor que tenta dar um apoio nas dificuldades que o aluno vai revelando numa ou noutra disciplina.
Não temos a tutoria associada às NEE pois para esses casos temos a Psicóloga e a Professora da Educação Especial.
Existe uma coordenadora das tutorias e é ela que faz corresponder os alunos indicados pelos conselhos de turma à bolsa de professores com horas de tutoria indicada pela direcção.
A maior parte dos alunos, que se mantêm em tutoria de um ano para o outro, pedem para ficar com o tutor do ano anterior.
Os professores tutores manifestam a vontade de desempenhar essa função.
Tem havido de tudo, sucesso e insucesso, mas de um modo geral tem-se recuperado muitos miúdos que sem a tutoria iriam engrossar os números do abandono.