TEMA 1

Debates sobre Relações Interpessoais
  • Afiliação
  • Vinculação
  • Padrões Relacionais

Sinopse
A investigação científica, na área das relações interpessoais, tem-se desenvolvido em torno de duas teorias 

Teoria das Inteligências Múltiplas
Howard Gardner

Psicólogo cognitivo norte-americano, insatisfeito com os testes psicométricos tradicionais que mediam apenas as inteligências lógica, matemática e verbal, Gardner desenvolveu, a partir da década de 80, a teoria das inteligências múltiplas, na qual pressupõe que as pessoas podem ter sete tipos diferentes de inteligência, cada uma delas determinando certas habilidades específicas. Assim, Gardner defende que cada indivíduo nasce com um grande potencial de talentos o qual vai sendo moldado pela educação e pela cultura.




 As sete inteligências identificadas por Gardner
Lógico-matemática é a capacidade de realizar operações numéricas e de fazer deduções (raciocínio lógico).
Verbal ou Comunicativo-Linguística é a habilidade de aprender idiomas e de usar a fala e a escrita para atingir objetivos.
Espacial é a disposição para reconhecer e manipular situações que envolvam apreensões visuais i.e. é a facilidade em se colocar e se deslocar no espaço -está muito relacionada com os atletas e a actividade desportiva.
Corporal-Cinestésica é o potencial para usar o corpo com o fim de resolver problemas ou fabricar produtos. Ela está relacionada com a coordenação motora, os sentidos e a expressão corporal.
Interpessoal é a capacidade de entender as intenções e os desejos dos outros e consequentemente de se relacionar bem em sociedade.
Intrapessoal ligada ao autoconhecimento e ao entendimento de si mesmo para alcançar certos fins.
Musical é a aptidão para tocar, apreciar e compor padrões musicais.
Recentemente Gardner incluiu mais dois tipos de inteligência: 

A Pictográfica, que é a habilidade de transmitir mensagens através de desenhos, figuras, imagens ou a facilidade em memorizar cenas e lugares e a Naturalista ou Existencialista, que é a sensibilidade quanto à natureza e ao meio ambiente. Significa a capacidade de entender o meio natural e identificar como as coisas acontecem na natureza.


Daniel Goleman
Teoria da Inteligência Emocional
A partir da combinação das inteligências interpessoal e intrapessoal, expostas por Gardner, Goleman popularizou o conceito de inteligência emocional.








 Conceitos Explorados


AFILIAÇÃO


Instinto gregário comum aos animais ditos sociais, como o Homem, que os leva a associar-se com os seus semelhantes, para satisfação de necessidades, entre outras, de comunicação, de apoio, de prestígio, de cooperação para alcançarem objectivos comuns. A afiliação é, assim, o factor responsável pela formação de grupos sociais.


ACEITAÇÃO - (opõe-se à REJEIÇÃO)
Firme disposição de reconhecer o outro tal como ele é, respeitando as diferenças.
“A reciprocidade na aceitação consiste na maior garantia de exercício do direito de cada um ser como é, praticar a sua cultura e ter os seus valores, divulgando-os e defendendo-os. A aceitação predispõe a olhar e a ouvir.”(Prette & Prette, 2007)

A professora de matemática de uma turma de 8º ano ficou doente e houve necessidade de providenciar a sua substituição. Os alunos gostavam muito dela e ficaram preocupados com a sua doença e também desagradados pelo facto de a professora ser substituída, apesar de compreenderem a situação. A nova professora foi recebida com comportamentos indisciplinados, de claro boicote às suas aulas.
Apesar de não serem frequentes, na minha escola,  situações de rejeição por questões étnicas é ainda muito habitual, principalmente até à puberdade, uma grande rejeição das raparigas por parte dos rapazes, na aula de educação física. Esta rejeição deverá ser trabalhada pelo professor da disciplina e pelo conselho de turma, mas também se vai esbatendo naturalmente à medida que vão aumentando as competências psico-motoras das raparigas e à medida que os jovens vão crescendo e adquirindo maior maturidade.



RECIPROCIDADE

O que se estabelece ou acontece, entre duas pessoas ou dois grupos, em situação de igualdade de parte a parte.








INTERDEPENDÊNCIA
Fazemos parte de uma rede de conexões que coloca cada um de nós em dependência recíproca dos outros, uns de uma forma mais próxima outros mais afastada.

Para além da importância do conceito nos sistemas biológicos, também na vida social a interdependência está subjacente às interacções entre pessoas e grupos, principalmente quando se considera que cada um de nós está em dependência directa dos outros.
A existência de autonomia e dependência, defendida por Maturana (1998), que nos permitem, a partir do conhecimento do outro descobrir-nos a nós próprios, leva à interdependência.

SOLIDARIEDADE
Disposição permanente para ajudar, sendo a ajuda entendida aqui como algo que vai para além do “dar algo a alguém”, pressupondo-se que a ajuda é benéfica para ambos, pois ambos têm algo a ganhar com o acto de solidariedade.
É muito frequente ouvirmos os prestadores de actos voluntários de solidariedade manifestarem uma enorme felicidade por tudo o que ganharam com a sua acção. O grande valor da solidariedade vai muito para além dos bens materiais e da simples doação, decorrendo da junção da interdependência com a aceitação.



Apresentação das tarefas propostas e respectivos objectivos
Tarefas

  • Exploração dos conceitos relacionados com as Relações Interpessoais
  • Registo de atitudes de Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição, ao longo de uma semana, em cenários escolares e formativos.


Objectivos

  • Identificar agentes, intencionalidades e especificidades contextuais das interacções em âmbitos educativos e formativos.
  • Analisar as relações interpessoais, em contexto educativo, à luz das perspectivas sistémica e dialógica.




Trabalhos realizados no âmbito do tema

Foi constituída na escola uma equipa federada de futsal feminino, a partir do núcleo de desporto escolar criado há 3 anos. O facto de a equipa ter passado a ser federada obrigou à realização de 4 treinos semanais mais o jogo ao fim de semana e, consequentemente, surgiu um grupo muito mais unido e coeso.  Os elementos da equipa, apesar de pertencerem a turmas e anos diferentes, juntam-se nos intervalos das aulas e em alguns momentos extra-escolares, apoiando-se mutuamente na realização de tarefas escolares, em atitudes de reciprocidade positiva.
Uma das alunas, de origem angolana e chegada a Portugal no início do ano lectivo, necessitava de um pagamento extra para que fosse aceite a sua inscrição na federação portuguesa de futebol. A aluna não dispunha dessa verba mas, por iniciativa das atletas, foi possível arranjar o dinheiro necessário através da venda de rifas, mostrando que a aceitação desta atleta no grupo estava concretizada.
É fácil constatar neste grupo-equipa a ocorrência de um processo de afiliação o que é normal que ocorra em qualquer equipa que se dedique à prática de desportos colectivos e mau será quando assim não acontece. Será a afiliação de uma equipa que está na base do que geralmente se designa por "espírito de equipa".
Uma das atletas da equipa do ano passado optou por inscrever-se como jogadora de uma outra equipa, apesar de continuar a frequentar a escola. Esta atitude de abandono originou uma atitude de rejeição por parte das restantes alunas, que se manifesta com reacções de indiferença, apesar de frequentar a mesma turma que outras duas atletas que permaneceram na equipa da escola.
Para os sucessos da equipa muito têm contribuído a enorme assiduidade aos treinos, revelando um grande sentido de responsabilidade, pois todas reconhecem que a ausência de uma representa o insucesso de todas pois numa equipa a interdependência é total. 



Fontes (básicas e complementares)

- Neto, F. (2002). Psicologia Social. Lisboa: Universidade Aberta.


- Costa, E.; Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Univ. Aberta.

- Del Prette, A.; Del Prette, Z. (2007). Psicologia das relações interpessoais (6ª ed.). Petrópolis: Editora Vozes







Reflexão sobre a pertinência científica e pedagógica do tema
Grande parte da nossa vida decorre das interacções que desenvolvemos com outros indivíduos pelo que será importante ter em conta alguns aspectos:
  • Os que evitam os contactos sociais, isolando-se, são mais vulneráveis aos problemas do foro psiquiátrico e têm, também, uma maior predisposição para se sentirem infelizes;
  • Ao longo da nossa vida social, apesar de estarmos mais ou menos integrados num grupo ou estabelecermos contactos com um número maior ou menor de pessoas, podemos seleccionar, em circunstâncias normais, as pessoas com as quais estabelecemos laços mais fortes;
  • Ao longo da nossa vida profissional (ou de estudante), somos obrigados a estabelecer relações com todo o tipo de pessoas, com maior ou menor estatuto na respectiva hierarquia, quer isso seja ou não do nosso agrado, pois a isso obriga a nossa integração na respectiva organização;
  • Ao relacionar-se com o outro, cada um de nós fará a sua própria interpretação
§  algo ameaçador
§  fonte de satisfação
§  uma enorme variedade de estádios intermédios
             De acordo com essa percepção, assim será desencadeada uma reacção, que será diferente de indivíduo para indivíduo.